Recado de Napoleão !

Napoleão Tavares Neves

Anteriormente, já ouvira falar em Aroldo Ferreira Leão, através do nosso amigo comum, Agliberto Bezerra, ambos agregados ao serviço público estadual da Bahia. Através de conversas esparsas, soube ser ele percuciente pesquisador do Cangaço, além de inspirado poeta já de mil estrofes nascidas da sua inspiração sertaneja! Somente isto. Pelo meu inicial entendimento, era ele uma futura estrela da literatura cangaceira que despontava no horizonte do controvertido tema. Tudo bem.

No ano de 2010, um certo dia, recebi em minha residência, em Barbalha, a visita de Aroldo Ferreira Leão que, estando na Estância – Balneário do Caldas, desceu até a cidade para conhecer-me. Veio com a esposa e filha e conversamos a tarde toda. Quanto mais se conversava, mais havia o que se conversar. De logo, vi tratar-se de um exímio comunicador: simpático, comunicativo, extremamente versátil, sabendo na ponta da língua estrofes variadas do cancioneiro popular sertanejo e fatos detalhados da turbulenta cena cangaceira dos sertões. De logo, senti estar ali um notável pesquisador do sempre momentoso tema Cangaço.Após prolongada conversa, no aperto de mão de despedida, veio o que eu não esperava: “O senhor vai prefaciar o meu livro sobre o Cangaço!” 

Mesmo surpreso com o convite, puz-me à disposição do visitante para prefaciar o seu futuro livro. O tempo foi passando, passando e eis que agora, em junho de 2.012, recebi das mãos do amigo comum, Agliberto Bezerra, o “boneco” do livro: “LAMPIÃO: UM ESTUDO DE BUSCAS E ESSÊNCIAS”. De logo, comecei a folhear a grossa e densa brochura e em cada página virada, uma surpresa com muita admiração da minha parte! 
Inicialmente, pincei alguns capítulos ligados ao nosso Cariri, tais como: A morte de Gonzaga, em Belmonte, A morte de Sabino Gomes e outros mais chegados a nós do Sul do Ceará. Com surpresa, notei a verdade histórica “merejando” dos textos escritos pelo arguto autor. Pensei comigo mesmo: esta obra deveria ser prefaciada por Frederico Pernambucano de Melo, ou Ariano Suassuna ou Pedro Nunes Filho... mas, não poderei furtar-me ao atencioso convite do competente autor e eis-me aqui a elaborar o prefácio pedido. 

Aroldo Leão ao lado do inesquecível Ten. João Gomes de Lira

De início, logo no capítulo de abertura do suculento livro, fiquei realmente surpreso com a beleza do texto “O SERTÃO, O SILÊNCIO DOS INSTANTES!”. Que beleza! Dir-se-ai Euclides da Cunha Redivivo, ou Guimarães Rosa Nordestino. Que primor literário, que vivo colorido vernacular! Do autor eu já esperava muito, mas, não tanto! O livro é bom, é intuitivo, é didático, é brilhante! O texto é extremamente rico em metáforas! O vernáculo é primoroso, às vezes condoreiro e até gongórico! A fauna e a flora do sertão foram postadas em cada frase! Os usos e costumes sertanejos parece saltarem de cada capítulo! O vernáculo é escorreito, castiço mesmo! 

Cada tema é exaustivamente debatido, documentado, tudo com as fortes nuances da verdade histórica. A riqueza iconográfica salta aos olhos de cada leitor. O potencial bibliográfico é extremamente abrangente. No livro há cerca de 203 fotos de informantes e entrevistados! Da saída de Lampião das tórridas terras do Pajeú e regiões vizinhas, o inspirado autor diz o seguinte: 

"No dia vinte e três, Lampião, rês que desfez em si os augúrios e arrepios da dexcomunhão, na região do Navio, pernoita no lugar Ponta Fina, com Ponto fino e mais sete cabras. Estava, sem sobras nem dobras, vivenciando as obras do extermínio do bandidismo no Sertão pernambucano. No cano do fuzil confiava, fiava suas ações e deserções, porções de senões a invadi-lo e aturdi-lo sistematicamente. Visivelmente fragilizado, não se entregava a dissuasões, suava, sugava o aroma do abandono, sumia, surgia, em locais os mais variados, antigo balaio baio. Maio o impulsionava para Alagoas, entre mágoas e vagas, nódoas e chagas.”. 

Sintam os leitores como, vez por outra, o poeta emana em cada frase buscando libertar-se do casulo do Cangaço!  Afinal, gostei do livro e o recomendo à leitura de todos os pesquisadores e poetas, curiosos e historiadores. Assim, de parabéns está o competente autor e a literatura cangaceira que incorpora agora mais um profundo conhecedor dos seus ricos e tortuosos meandros, vez por outra navegando nas asas da poesia. 

Napoleão Neves - Médico, Memorialista, Escritor - Barbalha
Conselheiro Cariri Cangaço

NOTA CARIRI CANGAÇO: É sempre um prazer compatilhar com a família Cariri Cangaço as pérolas de Napoleão. Antes mesmo de postar seu prefácio da obra de Aroldo Leão, recebemos do Mestre o simpático email, que transcrevemos a seguir: Prezado Severo, abraços. Recebi para prefaciar um magnífico livro cangaceiro, vindo de Juazeiro da Bahia: "Lampião, Buscas e Essências" do grande poeta e pesquisador Aroldo Ferreira Leão. É um livro para marcar e ficar, extremamente documentado e com 203 fotos de informantes e entrevistados. Pesei o seu 'boneco' hoje e deu 1kg e meio de peso. Veja que trabalheira para o autor e para mim.

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