Vó Marica do Tipi Parte 1 Por:Vicente Landim Macedo

Lamartine Lima, Manoel Severo e Vicente Landim Macedo

Acredito que a direção do Cariri Cangaço incluiu Maria da Soledade Landim, minha avó, na sua programação por ela, além de ter sido uma das Coronelas do Ceará, recebeu em sua residência Lampião e foi uma das responsáveis pelo acontecimento conhecido como Fogo do Taveira ou Questão de 8. 

Não tive a alegria de conhecer minha avó, pois nasci seis anos após o seu falecimento, mas, desde criança, eu ficava fascinado quando ouvia as histórias sobre ela, seu temperamento forte, suas atitudes firmes, decididas e corajosas, narradas pelos meus pais, tios, primos e pessoas moradoras do Tipi e de regiões próximas que conviveram com ela.
        
Maria da Soledade Landim, conhecida por Marica Macêdo ou Marica do Tipi, nasceu no Sítio Gameleira, Município de Missão Velha, em 1865. Filha de Joaquina de Sales Landim (Quininha) e de João Manuel da Cruz (Joca da Gameleira). Em 1997, quando eu estava colhendo dados para o livro Marica Macêdo, a brava sertaneja de Aurora, a minha querida prima Maria da Soledade de Macêdo (Soledade), que faleceu em 2003, com 97 anos, primeira neta de vó Marica, repetindo o que os meus pais e tios falavam, contou-me que se lembrava perfeitamente dos traços físicos da nossa avó.


  
Ela era morena, cabelos longos, rosto comprido e fino, boa estatura, aparentando gozar boa saúde. Disse-me, ainda, que a sua irmã Adalgiza (Duga) era a neta que mais parecia com a avó, até na coragem.  Quem olhasse para a Duga parecia que estava vendo vó Marica. Minha avó teve sete irmãos: Raimundo Saraiva da Cruz (Mundinho), Manuel Inácio da Cruz (Manezinho), Inácia de Sales Landim (Inacinha), Isidoro João da Cruz, Amâncio João da Cruz, José Francisco de Sales Landim e Antônio João da Cruz (Toinho).
        
Vó Marica casou-se duas vezes.A primeira, em 1884, na Igreja de Missão Velha, com seu parente José Antônio de Macêdo. Vó Marica e seu marido José Antônio de Macêdo (Cazuza ou Cazuzinha do Tipi), meu avô, são dos Terésios, isto é, são descendentes do Capitão José Paes Landim e Geralda Rabelo Duarte, fundadores, em 1731, do Sítio Santa Tereza, no Município de Missão Velha, CE, objeto da admirável obra A Estirpe da Santa Tereza do escritor Joaryvar Macêdo.


Bustos dos pais de Vicente Landim, na Pracinha do Tipi
         
Dos fundadores Marica é tetraneta (quinta geração) e Cazuzinha trineto (quarta geração). Meus avós, em 1890, já com três filhos - Raimundo Antônio de Macêdo (Mundoca Macêdo), Joana da Soledade Landim (Joaninha) e João Antônio de Macêdo - visualizando um futuro promissor, juntamente com seus irmãos Amâncio e José Francisco, migraram para o município de Aurora. O casal Marica e Cazuzinha, e Amâncio adquiriram propriedades no Tipi, onde se instalaram, região ainda em desenvolvimento, e José Francisco comprou o Sítio Angico, próximo à cidade de Aurora.
        
Outros dois irmãos de minha avó, Mundinho e Manezinho, na mesma época, seguindo o exemplo de meus avós, deixaram Missão Velha e foram para o Sítio Calabaço, município de Lavras da Mangabeira. Assim, dos oito irmãos, permaneceram no Cariri somente três: Inacinha, Isidoro e Toinho. Marica e Cazuza, nas terras que adquiriram, ainda virgens, desenvolveram atividades agrícolas e pecuárias e passaram a tomar parte ativa no desenvolvimento e na política do município aurorense. No Tipi, meus avós tiveram mais cinco filhos: Antônio Landim de Macêdo, José Antônio de Macêdo (Cazuza), Silvino José de Macêdo, Felinto José de Macêdo e Augusto Landim de Macêdo.
        
Em decorrência de meus avós viverem no Tipi, foi que eles passaram a ser conhecidos por Marica Macêdo ou Marica do Tipi e Cazuza ou Cazuzinha do Tipi. Tudo corria bem, quando, em 8 de janeiro de 1905,  faleceu meu avô, ficando vó Marica viúva com 40 anos de idade. Vó Marica com muita competência e habilidade assumiu a responsabilidade da administração dos seus bens e dos filhos, uma vez que o filho mais velho, Mundoca, tinha 18 anos e o mais novo, Augusto, apenas 6. Vó Marica resolveu em 1906 contrair novas núpcias com o viúvo Antônio Abel de Araújo, originário de Missão Velha.


Banner do Cariri Cangaço 2013 em Aurora, personagem principal: Marica Macedo, sob as bençãos do Conselheiro Cariri Cangaço, José Cícero.

Minha mãe, Vicência Leite Landim (Maroca), nora e sobrinha de minha avó, contou-me que perguntou à sua sogra qual a razão dela querer contrair novo casamento, uma vez que demonstrara capacidade e disposição para continuar as atividades desempenhadas pelo primeiro marido. Ela lhe respondeu: “vou casar, porque toda mulher necessita de um companheiro”.
        
Vó Marica não levou em conta a observação da minha mãe e contraiu novas núpcias. A realização do segundo enlace matrimonial de minha avó ocorreu no Sítio Cantinho, em Lavras da Mangabeira, com uma grande festa, pois, no mesmo dia, foram realizados três casamentos: vó Marica com o viúvo Antônio Abel; Maria Abel, filha de Antônio Abel, com o viúvo Manezinho, irmão de vó Marica e, Raimundo, filho de vó Marica, casou-se com a prima Glória, filha de Manezinho.
        
Diferentemente dos costumes da época, quando as mulheres se conformavam em, apenas, cuidar da casa e da prole, vó Marica continuou administrando os bens que lhe pertenciam e a seus filhos, tomando parte  na vida política e administrativa de Aurora.Seu marido Antônio Abel possuía temperamento calmo, tranquilo e pacato, conformando-se em ser somente o segundo marido de Marica, ele nada resolvia. Minha avó procurava educar os filhos de acordo com seus valores e ideais.
        
Desde pequeninos, lhes ensinava que a união entre eles era essencial para fortalecer a família, orientando-os a que não brigassem, mas que resolvessem suas pendências através do diálogo. Incentivava-os o respeito aos mais velhos, o senso de justiça, o amor à terra, o valor à palavra dada e o cultivo da religião. Ao inspecionar as plantações de milho, feijão, arroz, algodão e cana de açúcar, vó Marica levava os filhos para iniciá-los nos trabalhos agrícolas. Quando ia entabular algum negócio ou tratar de assuntos políticos, se fazia acompanhar por alguns deles.

Continua...
        
Vicente Landim de Macêdo
Parte da Apresentação de Conferência no Cariri Cangaço 2013 no dia 20 de setembro no municipio de Aurora

Um comentário:

Anônimo disse...

Eu sou bisneta de Juvelina Raimunda Abel de Araujo, e pesquisando vi que a mesma era irmã de Antônio Abel de Araujo, gostaria de saber o nome dos pais de minha bisavo, e sobre meu bisavo casado com Juvelina , nada sei sobre seus antepassados, o nome de meu bisavo era Vicente Fernandes de Oliveira. O senhor saberia a história da família Abel de Araujo?