Manoel Severo em Entrevista ao Jornal do Cariri


Às vésperas da abertura da quinta edição do Cariri Cangaço em terras cearenses com o Cariri Cangaço - Edição de Luxo - Ano V, transcrevemos entrevista de Manoel Severo ao Jornal do Cariri, concedida ao jornalista Joaquim Junior, a ser publicada na edição do jornal desta terça-feira, dia 22 de setembro.

JC - Primeiramente, gostaria que o senhor me confirmasse seu nome e sua função.

MS - Manoel Severo Barbosa - Curador e Produtor do Cariri Cangaço

JC - Peço que o senhor fale sobre a que se propõe o Cariri Cangaço, que chega, neste mês, à sua quinta edição.

MS - O Cariri Cangaço , não nasceu com o sentimento de fazer apologia ao Cangaço, cangaceiros, violência, enfim; não "mitifica" e nem procura elementos para "endeusar" os cangaceiros, ou Virgulino Lampião, seu mais destacado personagem, nem nenhum outro personagem dessa saga sertaneja tão penosa e cheia de dor. O verdadeiro sentimento que moveu a todos nós foi o de proporcionar um ambiente ainda mais propício para o debate e aprofundamento dessa temática que é tão marcante em nossa terra e em nossa gente, mesmo aqui no cariri do Ceará, onde muitos não acreditavam que havia ligações com a temática, e na verdade vamos encontrar , pelo contrario, episódios marcantes em terras cearenses. O incrível acontece; Lampião e o Cangaço que tanto sofrimento trouxe para o ordeiro povo do sertão, hoje promove o encontro,  a união e a harmonia na direção da busca da verdade histórica, a exemplo desta nossa nova edição, que receberá entre os dias 23 e 26 agora de setembro, aqui no cariri do Ceará, mais de 100 pesquisadores de todo o Brasil.

Manoel Severo, curador do Cariri Cangaço

JC - Conforme o senhor apresenta no blog do Cariri Cangaço, sua paixão pelo tema nasceu ainda na infância. Como o senhor manteve, ao longo dos anos, essa paixão pelo cangaço e de que forma surgiu o interesse em criar o evento?
MS - Sem dúvida. O fascínio pela temática começou na infância e Já homem feito, me vi reaproximar da literatura do cangaço e acabei por me apaixonar verdadeiramente pelo tema, daí me dedicando  sempre a buscar novas fontes; participar dos primeiros seminários seria inevitável, e assim  aconteceu. Estivemos em várias cidades; Serra Talhada, Mossoró, Paulo Afonso , e nesse "vai e vem" por entre as terras pisadas por Lampião, acabamos por nos aproximar dos "vaqueiros da história"; ou seja; de vários pesquisadores também apaixonados pelo tema. A cada  novo evento um novo companheiro, um compartilhador de aventuras, homens e mulheres que dedicaram e dedicam boa parte de suas vidas a seguir as pegadas desse que viria a ser intitulado o "rei do cangaço" ou o "governador do sertão", Virgulino Ferreira da Silva, vulgo Lampião. Daí pensar em criar e dá os primeiros passos na direção do atual Cariri Cangaço , foi um pulo.


De início tínhamos o desafio de estabelecer o formato do evento, a data, os conferencistas, tudo por tudo. Minha primeira preocupação foi fortalecer esse conceito de que te falava. Era nosso desejo criar um Seminário, mesmo que pequeno, onde pudéssemos de forma responsável, lucida e competente, trazer para nossos convidados e anfitriões, o resgate deste recorte da história do cangaço que poucos conheciam. O cariri cearense era sim um cenário privilegiado do cangaço, notadamente de Virgulino Ferreira. Como desconhecer a ação e episódios como a visita de Lampião a Juazeiro em 1926, a patente de capitão, sua suposta ligação com Padre Cícero; o fogo da Pi&cc edil;arra, a morte de Sabino, a amizade com Seu Tôim da Piçarra; como esquecer os marcantes momentos de Lampião em Aurora, Izaias Arruda, traição, fogo; e personagens como Major Zé Inácio, Sinhô Pereira, Chico Chicote, Irmãos Marcelinos, Coronel Santana, enfim. O cariri tinha sim, muito a contar e ser contado, e assim nasceu a nossa primeira edição ainda em 2009.



JCO Cariri Cangaço acontece em diferentes municípios simultaneamente entre os dias 23 e 26 de setembro. Gostaria que o senhor falasse sobre o evento e apresentasse um pouco de sua programação, contando quais cidades participam e o que o público pode esperar durante os dias em que ele será realizado.


MS - Antes mesmo de responder especificamente sua pergunta é necessário dizer que já são sedes oficiais do Cariri Cangaço, os municípios; no Ceará - Crato, Juazeiro do Norte, Barbalha, Missão Velha, Aurora, Barro, Porteiras e Lavras da Mangabeira ; na Paraíba - Sousa, Nazarezinho e Lastro, Princesa Isabel e São José de Princesa; em Alagoas, Piranhas, em Sergipe, Poço Redondo e em Pernambuco, Floresta.


Nesta nossa quinta edição em território cearense teremos como anfitriões; Crato com a noite de abertura e a exibição em grande estilo no Largo da RFFSA do festejado filme de Wolney Oliveira - Os Últimos Cangaceiros, seguido de debates; Lavras da Mangabeira com atividades durante todo o dia 24, com visitas, conferencias e debates, voltadas para um dos episódios mais marcantes daquela época, inicio dos anos 10, que foi a Invasão de Lavras por Quinco Vasques e a força de Fideralina Augusto; dia 25 estaremos com programação dupla, o dia inteiro em Missão Velha, com visitas e conferencias, com temas ligados aos Terésios; t ronco tradicional e gênese de boa parte das tradicionais famílias de nosso cariri e a noite no Memorial Padre Cícero em Juazeiro, estaremos promovendo um Painel e debates sobre "as várias faces do santo de Juazeiro" procurando discutir  e provocar a discussão sobre a força da figura e personalidade de Padre Cícero. Na manha do dia 26 teremos em Juazeiro um encontro com os vários grupos de pesquisa da temática no Brasil. Mas a programação os senhores completa e detalhada os senhores podem acompanhar em nosso site:www.cariricangaco.com


Os Últimos Cangaceiros, de Wolney Oliveira na abertura em Crato

"Já temos confirmados mais de 100 pesquisadores de 16 estados do Brasil, dessa forma, diante dessa programação estimamos que cerca de 1.800 a 2.000 pessoas possam estar participando do evento em seus
4 dias de realização."

JC - O que o levou a escolher a região do cariri como palco do Cariri Cangaço, que chega a sua quinta edição? 

MS - Bem, a partir do próprio nome, a própria marca do evento já traduz nossa identidade. O evento nasceu aqui em nosso Cariri, no triângulo Crajubar - Crato, Juazeiro e Barbalha, daí agregamos a temática ao nome de nossa região e por fim consolidamos o Cariri Cangaço, que nasceu com esse sentimento; lúcido e responsável; em trazer para o sul do Ceará esse fórum qualificado que pudesse de forma clara; não fazendo apologia ao banditismos ou endeusando cangaceiros; num primeiro momento discutir esse fenômeno tão rico e intrigante que foi o cangaço, e que se tornasse uma ambiente plural e cheio de capilaridade para também discutir outras temáticas ligados ao nosso nordeste, às nossas raízes, à nossa história... e memória, e aí vamos encontrar o cordel, a música, a estética, os beatos, o messianismo, os coronéis, a culinária, a medicina, enfim.

JC - Como o senhor avalia a importancia em manter viva a discussão do movimento cangaço ao longo do tempo? Qual a contribuição à cultura e historia do povo nordestino o senhor espera que o Cariri Cangaço ofereça?

MS - O grande legado do Cariri Cangaço, a meu ver, está na forma como desperta os vários segmentos das áreas da cultura, memoria, história e inclusive a academia, sobre a necessidade dessa releitura do tema. O cangaço mitificado ao longo dos anos, muitas vezes interpretado de forma equivocada, e que possui tanta capilaridade como já falei, precisava ter esse novo olhar, e é a isso que nos propomos. O tamanho de nossa contribuição á cultura e a história não saberia dizer aos senhores, mas estamos nos esforçando nessa direção. Só para ilustrar o que digo, atualmente o Cariri Cangaço esta presente em cinco estados, em 18 municípios e já realizou exatas 83 conferencias, 56 visitas técnicas  e 45 mesas de debates.

JC - Para finalizar, gostaria que o senhor falasse sobre a continuidade do projeto e quais eventos planeja realizar, no futuro, dentro do tema.



MS - Continuamos com  muito entusiasmo acreditando que podemos e iremos perseverar com este sentimento,  de fomentar a construção de nossa memoria e historia, novos empreendimentos. Nossa agenda para 2016 já aponta para várias iniciativas, igualmente alvissareiras, como mais duas edições do estado da Paraíba, em Março e Junho, uma edição em Pernambuco em Maio, uma edição nas Alagoas em Julho e uma ousada iniciativa no estado do Rio Grande do Norte no segundo semestre.


Joaquim Júnior para o Jornal do Cariri 
Edição do dia 22 de setembro de 2015

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