O Cariri Cangaço e a Invasão de Gato a Piranhas

Nas escadarias da prefeitura de Piranhas, a Família Cariri Cangaço...

A tarde do segundo dia do Cariri Cangaço Piranhas 2015 reviveu um dos momentos mais marcantes de sua história. Sob a coordenação dos pesquisadores João de Sousa Lima, Inácio de Loiola, Paulo Britto e Celso Rodrigues, tivemos a oportunidade de reencontrar nas ruas de Piranhas aqueles momentos de tensão vividos em 1936...

João de Sousa Lima nos esclarece: “Gato encontrou a morte depois desse ataque a Piranhas, depois da prisão de sua amada Inacinha, pelo tenente João Bezerra. Inacinha estava grávida e neste combate saiu ferida. O tiro entrando nas nádegas e saindo no abdômen. Por muita sorte a criança não foi ferida. Gato pede ajuda a Corisco e este organiza esse ataque . No trajeto, Gato sai disseminando a morte. A data se tornaria, para algumas famílias, uma lembrança dolorosa. 

Gato e Inacinha, Inacinha presa em Piranhas; João Bezerra e Dona Cyra.

E continua João: "Era 29 de outubro de 1936. Dentre os mortos feitos por Gato, estavam Abílio, Messias, Manuel Lelinho e Antônio Tirana. Sendo refém de Gato, o jovem João Seixas Brito, que seria sangrado alguns minutos depois, quando jurou que não havia policiais na cidade e ao romper o som dos primeiros disparos, ocasionados pelos poucos moradores que se negaram a fugir, abandonando a cidade, o rapazinho de 15 anos de idade foi barbaramente assassinado.” 

Inácio Loiola, confirma: " É importante saber que Inacinha depois desse episódio viria a se casar justamente com um soldado da volante de Piranhas..." E continua João de Sousa Lima... “Assim que os cangaceiros entraram na cidade, o delegado Cipriano Pereira e mais oito soldados fugiram deixando os moradores desguarnecidos. Os populares tiveram que suprir a falta dos “Homens da Lei”. Formaram-se poucos grupos de resistência e entre alguns dos habitantes que lutaram estava Cira Brito, esposa do tenente João Bezerra."

Sonia Jaqueline, Cacau, Manoel Severo, Petrucio e Reginaldo Rodrigues, João de Sousa, Inácio Loiola e Paulo Britto
 João de Sousa Lima
Paulo Britto
 Antônio Vilela, Manoel Severo, Rostand Medeiros
Paulo Britto, Ivanildo Silveira, Josué, Junior Almeida, José Tavares e Narciso Dias

Celso Rodrigues complementa:" Lá do cemitério o Joãozinho Carão defendia com outros homens aquela lado da cidade, já meu pai Chiquinho Rodrigues e Joãozinho Marcelino, se encontravam nos sobrados sustentando fogo contra os homens de Corisco e Gato.” Volta João de Sousa Lima: ”Chiquinho Rodrigues portava um rifle cruzeta e tinha um estoque de 260 cartuchos, dos quais deflagrou 170. Existe uma polêmica em razão do tiro que atingiu o cangaceiro Gato. Uns dizem que o autor do foi Chiquinho Rodrigues, outros creditam o certeiro disparo, a Joãozinho Carão. A verdade é que Gato saiu baleado e morreu três dias depois do confronto, acabando-se assim um dos mais cruéis homens que engrossaram as fileiras do cangaço.”

Paulo Britto filho do tenente Bezerra , teve também sua mãe, dona Cyra, como uma das protagonistas do marcante episodio, que afirmaria depois em um depoimento: "Eram duas da tarde quando eles chegaram a Piranhas. Eu pensei que fosse [o tenente] Bezerra de volta com a volante [proveniente de Delmiro Gouveia]. Então eu saí para a calçada, porém uma prima minha gritou: 'Cyra, entre são os cangaceiros'. Piranhas é uma cidade construída num vale cercado de serras. Quando eu olhei, vi que vinham descendo cangaceiros por todos os lados. Recuei e fui fechar a porta da casa, mas não consegui fechar a primeira janela e, um cangaceiro, escondido atrás de uma gameleira (uma árvore secular que havia em frente à casa) disse: 'Não feche que morre'. Eu me encostei na janela e olhei. Vi a um canto da parede um riflezinho. Peguei-o e atirei no cangaceiro. Fiquei trocando tiro. Ele tentava me alvejar pela janela e eu atirava nele. (...) Nós tínhamos armas em todos os cantos da casa."

 Do alto do Solar dos Rodrigues, Celso Rodrigues, João de Sousa Lima e Paulo Britto: A saga da invasão de Gato
Celso Rodrigues
João de Sousa Lima e Celso Rodrigues  
Renato Bandeira

E continua dona Cyra: "Quando eu estava assim trocando tiros com esse homem, Corisco surgiu na esquina da avenida Tabira de Britto [próxima à Prefeitura Municipal], perseguindo meu tio João Correa de Britto, prefeito nessa época. Corisco estava quase pegando meu tio quando eu atirei nele, mas só consegui atingir os bornais. Ele rodopiou, entrincheirou-se na escada de uma casa e ficou atirando em mim. Eu deixei de atirar naquele que estava junto à gameleira e fiquei atirando para o outro. É quando surge na mesma esquina um grupo de cangaceiros trazendo uma rede com um corpo, uma rede toda ensanguentada. Era Gato, marido de Inacinha, que tinha morrido. Um tiro [dos muitos dados pelos defensores da cidade em duas horas de cerrado tiroteio] atingiu a cartucheira que ele trazia na cintura, atingiu o pente de onde explodiram cinco balas que esfacelaram seu intestino." (1985, p. 13) Os cangaceiros, diante do inesperado, bateram em retirada.”

Por mais de duas horas os convidados Cariri Cangaço puderam ouvir das escadarias do Palácio Pedro II, sede da Prefeitura Municipal de Piranhas e mais que isso; percorrer ao lado dos pesquisadores, as ruas e o trajeto, como também conhecer as verdadeiras posições e os principais pontos do ataque e da resistência de Piranhas contra os grupos de Corisco e Gato.  

Pedro Barbosa, Luana Lira, Ingrid Rebouças
Celsinho Rodrigues e a Rota da Invasão pelas ruas de Piranhas 
 Cada passagem , cada local, cada ponto: Memoria e história pelas ruas de Piranhas
Wescley Rodrigues, Neli Conceição, Patrícia Brasil Rodrigues

O sol já começava a se por quando a caravana de peregrinos das caatingas retornava ao ponto de partida. Ali se consolidava mais um dos sensacionais momentos do Cariri Cangaço Piranhas 2015. Convidamos a todos a visitar os links abaixo com o espetacular trabalho de Aderbal Nogueira.





Cariri Cangaço Piranhas 2015
Piranhas, Alagoas 26 de Julho 
Paço Municipal , Ruas de Piranhas

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